Morgana se sentou, surpresa. O homem que havia feito o Ritual com ela desceu do Altar e se ajoelhou, erguendo os braços.
– Glória à Deusa !
Exclamações similares ecoaram por todo o Templo. A viajante do tempo olhava sem acreditar. Era mesmo a mulher lindíssima que ela havia visto esculpida nas estátuas, a Deusa Regina!
A bela mulher, com uma aura luminosa ao seu redor, olhou com curiosidade para Morgana.
– Pelo seu ar de surpresa, você não parece ser daqui. E também tem essa luminosidade. Desculpe, não me apresentei. Meu nome é Regina. Ela estendeu a mão, Morgana a segurou, trêmula.
– Eu…sou Morgana. Sou da Terra, e… viajei no Tempo até aqui. Não sei como, eu juro! – Ela tremia, sua emoção era imensa.
– Calma, Morgana. Respire fundo. Ela a puxou para perto de si e a abraçou.
– Não precisa ter medo. Eu sou de carne e osso como você.
– Mas… como? Como surgiu assim, quando foi chamada?
Regina aproximou os lábios do ouvido de Morgana e sussurrou:
– É complicado para explicar, mas não é nada de mais. Mas espere um pouco, tenho que fazer as saudações “oficiais” para as Sacerdotisas e para os devotos, depois conversaremos com calma.
Ela deu um beijo nos lábios de Morgana, e se virou para as Sacerdotisas.
– Agradeço a vocês pela honra de ter sido convidada a participar desta Cerimônia. Quero que saibam que, mesmo em pontos distantes do Universo, minha Energia está com vocês. – E , virando-se para os devotos presentes :
– Tenham em mente que eu devo muito a vocês, são vocês que mantêm acesa a Chama e infinita a Glória! Que seus desejos se realizem, que sua Saúde seja perfeita e sua vida seja Longa e Próspera!
Então, todos ficaram em silêncio. Regina começou a brilhar muito mais intensamente, a energia de todas as pessoas presentes estava sendo canalizada diretamente para ela e através dela, retornando às pessoas como feixes coleantes de luz intensa.
Todos os presentes fizeram gestos de reverência. Então, da mesma forma como surgiu, Regina entrou no Portal e desapareceu.
Morgana ficou surpresa, pensou:
– Epa, ela disse que iríamos conversar com calma, mas sumiu!
Luz e Lua, que não haviam escutado o que Regina sussurrara para ela, a tomaram pelo braço
– Agora você deve tomar um banho e descansar, e ficar feliz por ter sido agraciada com a presença da Deusa! Sempre que ela aparece, muitas pessoas têm suas doenças curadas e seus desejos realizados.
– Acho que não adianta eu dizer nada – pensou ela – já vi que não deu em nada, estou presa neste Tempo. Pelo menos estou tendo sexo de maneira diferente, era o que eu queria.
As duas a deixaram na suíte, fecharam a porta do quarto, e ela entrou na banheira . De repente, sentiu que estava sendo observada, e se virou rapidamente.
Regina estava em pé, bem do lado da banheira.
– Eu disse que conversaríamos com calma depois.
– Ai que susto! Desculpe, Regina…Deusa…Senhora…como é que eu devo chamá-la?
– Regina mesmo. Só. Não precisa de “Deusa”, nada disso, eu sou uma mulher como você.
– Está bem.
– Para começar, Morgana, conte-me como chegou aqui. Você pareceu assustada, então não veio intencionalmente.
– Não. Eu fiz um Ritual, com um Espelho Negro e um Círculo Mágico, e fui parar em um lugar cheio de pessoas com macacões fechados até o topo das cabeças.
– Mas você faz parte de alguma Ordem ou Irmandade?
– Nem sei o que é isso. Foi um advogado, Nguvu, que…
– NGUVU???
– É, esse é o nome dele. Ele foi quem me enviou esses acessórios e disse como fazer o Ritual.
– Tem certeza? Nguvu? Um Negro alto e musculoso?
– Tenho. E dizem que é muito bem dotado.
– Isso eu sei bem. Ele tinha que estar metido nisso, o safado! Mas o que eu queria saber é como você veio parar justamente nesta época, e naquele Planeta. Vou precisar falar com Adrian.
– Adrian? Você disse Adrian??
– Espere um pouco.
Regina apertou um ponto no seu antebraço. Então, um homem surgiu pelo Portal luminoso.
– Adrian! Mas você está diferente!
Regina ficou surpresa.
– Você conhece Adrian?
– Eu passei a noite com ele!
– Isso está ficando complicado.
– Calma, Regina – disse Adrian. Você também deve ter calma, Morgana. Eu sou Adrian, mas estou mais velho. Sou um Viajante do Tempo.
– Mas o Adrian que conheço ainda não sabe como se faz a viagem no Tempo. Vocês precisam me ajudar!
– Adrian, pode me explicar isso? Você já conhecia Morgana?
– Já. E por isso mesmo foi importante virmos aqui. Morgana, foi a sua viagem no Tempo e seu encontro com o meu “Eu” mais jovem que permitiu o desenvolvimento da primeira Máquina do Tempo!
– Você quer dizer que fui eu que dei origem às Viagens no Tempo?
– Não, Morgana – disse Regina – pelo que entendi, Adrian criou a primeira Máquina do Tempo a partir da sua Viagem pela Magia.
– Ah, a coisa da “Engenharia Reversa”, a abordagem científica do Ritual Mágico. Mas então vocês não vão me ajudar?
– Adrian, o que você pode nos dizer, já que você sabe tudo a respeito?
– Morgana, você precisa ficar aqui e ir com o “Adrian jovem” ao Centro de Pesquisas. Lá, ele irá aprender com você todas as etapas do processo que trouxe você a esta época. Isso será essencial para que a Máquina do Tempo seja desenvolvida. Mas você não pode contar nada a ele sobre nosso encontro.
– Então, se vocês viajam no Tempo, é através dessa Máquina, não por serem Deuses .
– Eu nunca disse que era uma Deusa.
– Mas não negou lá no Templo. Embora tenha ressaltado que eram os devotos que mantinham “acesa a Chama e Infinita a Glória”.
– É complicado. Existem eventos importantes na História do Universo que dependem dessa crença na Deusa. Eu não pedi por isso, e, creia-me, por vezes é um fardo difícil de carregar.
– Então, Adrian… você sabe se eu voltarei para meu Tempo? E quando?
– Sei. Mas se eu contar, posso alterar a História, criando uma linha alternativa de tempo. Mas você vai voltar, sim. E no mesmo dia em que saiu, apenas alguns minutos depois.
– Isso é muito bom, muito bom mesmo! Mas eu não posso contar nada a você? Quero dizer, ao seu “Eu” jovem?
– Não, porque na linha de tempo original, você não me contou. Mas provavelmente foi esta conversa entre nós que a convenceu a ir ao Centro de Pesquisas, e não tentar um outro Ritual, que poderia transportá-la a algum outro lugar e época.
– Tudo bem, então. Não vou contar sobre nosso encontro.
– Ótimo. Regina, acho que podemos retornar.
– Espere. Preciso saber…e o seu marido?
– Ele está na Esfera do Tempo, observando nossa conversa, e cuidando da minha segurança. Sempre viajamos juntos. Mas agora precisamos ir.
Novamente , Regina colou os lábios no ouvido de Morgana, e sussurrou alguma coisa, dizendo:
– Pode ser útil em algum momento.
Morgana ficou meio confusa, era algo enigmático, mas em seguida falou:
– Entendo. Podem deixar, vou ajudar Adrian no que puder.
Regina e Adrian sumiram no Portal, que deixava entrever ao longe uma esfera espelhada brilhante . Morgana deduziu que a tal “Esfera do Tempo” era que fazia as viagens, e o Portal era criado pela máquina para que os viajantes pudessem aparecer sem que o veículo fosse visto.
Nisso, a Sacerdotisa Luz apareceu na porta.
– Você está sozinha? Tive a impressão que conversava com alguém, ouvi vozes.
Morgana ficou quieta, não soube responder.
– Foi a Deusa. Era a voz Dela. E há vestígios da luminosidade Dela aqui, eu posso ver claramente. Você realmente foi abençoada por Ela.
– Eu acredito que sim. Agora sei que vim a este Tempo e Lugar com uma finalidade.
– Uma missão para Ela.
– Pode-se dizer que sim.
Na manhã seguinte, Morgana pediu às Sacerdotisas que lhe indicassem como chegar até o Centro de Pesquisas. Elas colocaram um veículo do Templo à sua disposição, ela poderia chamá-lo quando precisasse, e ficar hospedada entre elas quanto tempo fosse necessário.
Lá chegando, ela perguntou por Adrian, que veio recebê-la.
– Morgana, é uma surpresa! Achei que teria muito trabalho para convencê-la a vir aqui.
– Eu pensei bem a respeito, e vi que seu trabalho é muito importante, pode ser um grande avanço para a Humanidade.
– Que bom. Venha, vou lhe mostrar um protótipo do que pensamos pode vir a ser um veículo para viagens no Tempo.
Ela olhou, e achou estranho.
– Parece uma cabine telefônica do Século passado, digo, do Século Vinte.
– Mas dentro pensamos em colocar todo o aparato tecnológico de nosso tempo, claro.
– Eu imaginava algo bem diferente.
– Como assim?
– Como uma Esfera espelhada.
CONTINUA