AMOR DE PESO – 01X07 – PÔR DO SOL

Pai e Mãe,

Acabei de ver meu segundo homem pelado. Sei que isso talvez não seja algo apropriado para compartilhar com os pais, mas com vocês eu posso contar. Não me julguem, mas o Zedu é lindo. Tenho certeza de que vocês gostariam de conhecê-lo… quer dizer, não da maneira como eu o conheci no banheiro. Ok, isso está ficando bizarro demais.

Amo vocês.

***

Aquele café da manhã trouxe um clima esquisito entre mim e o Zedu. A gente mal conversou, e aquilo estava me matando por dentro. Será que ele ficou chateado? Provavelmente sim. Eu ficaria no lugar dele. Só uma pessoa sem noção entraria no banheiro daquele jeito, sem bater, sem avisar. Mas, ao mesmo tempo, ele não fechou a porta, então a culpa era 50% minha.

Depois do café, os meninos foram embora, e eu me vi sozinho em casa. Para ocupar a mente, fiz algumas tarefas domésticas enquanto deixava uma música tocar ao fundo. “Sovereign Light Café”, do Keane, enchia a cozinha com sua melodia nostálgica, e eu me peguei refletindo sobre a minha jornada em Manaus.

— O que eu estava pensando?! Que o Zedu poderia gostar de um gordo?! — resmunguei para mim mesmo, passando um pano úmido pelo chão. — Sou muito idiota. Acho que vou virar padre. Todo homem que eu gosto ou vai embora ou não é gay.

Enquanto eu afundava na minha bad matinal, Letícia recebia uma ótima notícia em casa. Um dos diretores ligou para confirmar sua participação em um comercial de sabão em pó. Empolgada, ela comemorou com a mãe e, sem perder tempo, correu para a minha casa para compartilhar a novidade.

— Que máximo! Fama, dinheiro e poder! — exclamou Giovanna, mais animada do que a própria Letícia.

— Isso mesmo, Gio. Temos que pensar apenas nas coisas boas. — respondeu Letícia, sorrindo.

— Espero me tornar uma modelo super famosa. — disse minha irmã, se posicionando na frente do ventilador e fazendo várias poses, como se estivesse em um ensaio fotográfico.

— Eu quero ser médico! — gritou Richard, que até então estava deitado no chão. Ele se levantou de repente e ergueu os braços, como se fosse um super-herói. — E salvar pessoas!!!

Olhei para Giovanna e caímos na gargalhada. Richard, apesar de contrariado, também riu de si mesmo, contagiado pelo nosso bom humor.

Aproveitei a presença de Letícia e comecei a perguntar sobre o Léo. Ela disse que ele estava bem, morando com os avós e estudando.

Que merda.

Em Parintins, minha tia Olívia tentava, a todo custo, agir como se nada tivesse acontecido entre ela e Carlos. Mas era difícil ignorar os sentimentos que insistiam em borbulhar dentro dela.

E como nada na vida é perfeito, seu celular vibrou com uma mensagem de Orlando.

***

Orlando:

— Saudades.

Olívia:

— Também.

Orlando:

— Quero te ver quando você voltar.

Olívia:

— Claro. As aulas das crianças começam na segunda-feira, mas podemos nos encontrar à noite.

Orlando:

— Combinado.

***

No sábado, resolvi levar meus irmãos para passear no shopping. Escolhemos o Manauara, que ficava perto de casa. O lugar era enorme e bonito, e uma das coisas que eu mais gostava nele era a área da praça de alimentação, onde havia uma floresta no meio. Sempre achei incrível almoçar olhando para a natureza.

Depois de comer, minha irmã decidiu renovar o guarda-roupa escolar. Visitamos todas as lojas possíveis, enquanto Giovanna reclamava de tudo. Eu e Richard sofremos juntos, como dois prisioneiros arrastados para um campo de batalha fashion.

Entre um provador e outro, peguei o celular para conferir as notificações. Nenhuma mensagem do Zedu.

Por causa dele, baixei o WhatsApp. Na maioria das vezes, ele me mandava links de músicas, matérias interessantes ou vídeos fofos de animais. Mas agora, silêncio total. Eu realmente não tinha sorte. Primeiro sofri por causa do Léo, agora pelo Zedu.

Mal tive tempo de me afundar na autocomiseração quando um barulho alto chamou minha atenção. Vários manequins tombaram como peças de dominó dentro da loja.

Poucos segundos depois, surgiu a gerente, furiosa, segurando Richard pelos braços.

— Você conhece esse moleque?! — perguntou ela, sua expressão transbordando impaciência.

Olhei para o Richard, que me encarava com olhos de cachorro arrependido.

— Não. — respondi, sem hesitar.

— YURI!!! — protestou Richard, completamente desesperado.

— Esse nem é meu nome. — retruquei, mas depois suspirei, derrotado. — Tá, esse selvagem é meu irmão.

Graças a Richard, passei parte do meu sábado ajudando a arrumar manequins. Quando Giovanna saiu do provador e nos viu ali, fez cara de espanto e simplesmente passou direto, fingindo que não nos conhecia. Traidora.

Depois da confusão, fomos comer um doce na praça de alimentação. Eu ainda estava irritado, mas a raiva logo passou. Richard era uma peste, mas no fundo, eu não conseguia ficar bravo com ele por muito tempo.

Antes de começar a comer, me levantei e olhei para Giovanna.

— Eu vou ao banheiro. Se o Richard sequer pensar em sair do lugar, hoje ele vai dormir com o couro quente. — ameacei, sabendo muito bem que nunca teria coragem de machucar um fio de cabelo dele.

— Pode deixar. — respondeu ela, ainda entretida com seu sorvete.

A melhor parte de ser irmão mais velho era fazer ameaças, mas quase nenhuma funcionava com Richard. Na verdade, era mais fácil ele me fazer chorar do que o contrário.

Ao chegar no banheiro, dei de cara com a última pessoa que eu queria encontrar na face da Terra.

Vando.

— Olha só… Até as baleias precisam ir ao banheiro. — disse ele, soltando sua risada nojenta.

Revirei os olhos e ignorei.

— Vai se lascar. — murmurei, passando direto e entrando em um dos boxes.

Vando era um babaca. Eu nem sabia por que os meninos ainda andavam com ele. Sempre soltava piadinhas gordofóbicas e machistas, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Ele devia ter uns vinte anos, cabelo cacheado, algumas tatuagens e uma voz irritante. Mas o que mais chamava atenção nele era seu nariz enorme. Eu poderia fazer mil piadas sobre isso, mas não queria descer ao nível dele.

Então, claro, o imbecil teve uma ideia genial.

Enquanto eu estava dentro do box, ouvi barulhos estranhos do lado de fora. Quando terminei de urinar e fui sair, percebi que a porta não abria.

— Como assim?! Sério, Vando?! Abre essa porta!!! — tentei girar a maçaneta novamente, mas nada.

Do lado de fora, ele ria.

— Escroto. — murmurei, sentindo a irritação crescer.

Foi então que vi a sombra dele se afastando. Poucos segundos depois, um detalhe me chamou atenção: a placa de “Em Manutenção” colocada na entrada.

— Droga…

Encostei na porta, frustrado. Peguei o celular, mas, claro, sem sinal.

Enquanto isso, na praça de alimentação, meus irmãos finalmente perceberam minha ausência. Giovanna já estava prestes a me ligar quando notou uma pequena aglomeração.

— Richard, olha! — apontou, animada. — É a Fernanda Figueiredo!

— Quem?! — Richard franziu a testa.

— Apenas a blogueira de maquiagem mais badalada do momento! — e, sem pensar duas vezes, ela correu na direção da influenciadora, deixando Richard para trás.

Richard olhou ao redor, confuso, até que avistou Vando. Seu olhar se estreitou. Ele começou a seguir o idiota. Enquanto isso, eu continuava dentro do banheiro, sem saber quando — ou se — alguém iria me socorrer. Nada disso estaria acontecendo se eu fosse magro.

Sabe aquela cena clássica de filme de zumbi, em que uma multidão se amontoa sobre a vítima indefesa? Pois é, Fernanda Figueiredo vivenciou isso na pele. A influencer mal conseguia respirar no meio do tumulto de fãs desesperados por uma selfie. Entre essas pessoas estava minha irmã, Giovanna, que, por mais que tentasse se aproximar, era simplesmente impossível furar a barreira humana ao redor da celebridade. Mas minha irmã nunca foi de desistir fácil. E então, teve uma ideia dramática: apelou para seus dotes artísticos e fingiu um desmaio cinematográfico.

O plano funcionou melhor do que o esperado. Um dos seguranças, assustado, imediatamente pegou Giovanna nos braços e a carregou para a enfermaria do shopping. O ato foi tão convincente que até a própria Fernanda, preocupada, decidiu acompanhar o resgate. Ao chegarem à enfermaria, o segurança deitou minha irmã em uma maca e, na tentativa de identificar a garota, a influencer pegou a bolsa dela e conferiu seus documentos.

— Calma, garotinha, vamos encontrar sua família. — disse Fernanda, com um sorriso gentil.

Enquanto isso, Richard continuava em sua missão secreta: seguir Vando. Ele o perseguiu até o estacionamento, onde, em um momento de distração, o idiota deixou cair o bilhete do estacionamento. Sem perceber, entrou no carro e dirigiu-se à saída. Só que, ao notar a falta do bilhete, foi obrigado a dar meia-volta, irritado, para refazer parte do caminho e procurar o papel perdido.

Richard olhou para cima e avaliou a situação.

— Hum… só tem uma câmera de segurança… acho que consigo fazer alguma coisa. — pensou, traçando seu plano.

Nesse exato momento, um caminhão parou bem na frente da única câmera que registraria qualquer irregularidade. Oportunidade perfeita. Com agilidade, Richard sacou um pequeno canivete que havia comprado pela internet e, sem hesitação, furou os quatro pneus do carro de Vando. Antes que o caminhão saísse, ele desapareceu como um ninja.

Vando, completamente alheio ao que havia acontecido, encontrou o bilhete, pagou a taxa e entrou no carro, sem notar que os pneus estavam esvaziando rapidamente.

— Tchau, otário! — gritou Richard, correndo de volta para a Praça de Alimentação, vitorioso.

Enquanto isso, eu já estava há exatos 23 minutos preso dentro do banheiro. Sem sinal no celular, sem esperança de resgate. Encostei-me na parede e comecei a chutar a porta de vidro, na esperança de conseguir quebrá-la. Depois de alguns golpes, o vidro finalmente cedeu. Liberdade, doce liberdade!

— O que significa ISSO? — esbravejou o zelador, segurando a placa de “Em Manutenção”, que estava na entrada do banheiro.

Levantei as mãos em sinal de rendição.

— Calma, moço! Eu posso explicar! — tentei argumentar, ainda ofegante.

Na enfermaria, enquanto eu lidava com minha própria confusão, Giovanna aguardava o momento perfeito para encerrar sua encenação. Uma enfermeira passou álcool em um algodão e o aproximou de seu nariz. Lentamente, ela foi abrindo os olhos, franzindo a testa, fingindo estar confusa.

— Onde estou…? — murmurou, como se estivesse acordando de um longo coma.

— Você passou mal, garotinha… Giovana, não é? — perguntou Fernanda, demonstrando preocupação.

Os olhos de minha irmã brilharam de imediato.

— Não acredito! Fernanda Figueiredo sabe o meu nome!!! — gritou, batendo palmas como uma criança animada. — Fernanda, sou uma grande fã do seu trabalho! Desculpa, eu não queria te assustar. Mas já que estamos aqui… podemos tirar uma selfie?

A influencer riu e assentiu. Depois de checar a pressão e a temperatura de Giovanna, a equipe de enfermagem confirmou que sua saúde estava impecável. A farsa foi recompensada com a tão desejada foto ao lado de sua ídola. Até os funcionários da enfermaria aproveitaram a oportunidade para tietar Fernanda.

— Mas, Giovanna, prometer que não vai mais fazer esse tipo de loucura, tá? Não queremos ninguém se machucando por uma foto. — aconselhou a blogueira.

— Claro, claro, prometo! — respondeu minha irmã, já focada em outra coisa. De repente, arregalou os olhos. — Meu Deus… Richard!

Sem perder tempo, Giovanna deu um gritinho animado, agradeceu Fernanda e saiu correndo da enfermaria feito uma louca.

De volta ao banheiro do shopping, minha situação havia se tornado um verdadeiro caso de polícia. Tive que explicar a história pelo menos dez vezes. O zelador chamou o administrador, que chamou o supervisor, que chamou a equipe de segurança. Faltou apenas convocarem o dono do shopping para uma reunião emergencial sobre o caso.

Após investigarem a situação, os fiscais concluíram que alguém havia amarrado a porta pelo lado de fora, impossibilitando minha saída. Finalmente, fui liberado e voltei para a Praça de Alimentação, exausto.

Ao chegar, encontrei Giovanna e Richard sentados no mesmo lugar, agindo como se nada tivesse acontecido. Suspirei e me sentei em silêncio, imitando o comportamento deles.

— Onde você estava? — perguntou Giovanna, estreitando os olhos.

— Tive uma emergência no banheiro. — respondi, evasivo. — Por que você tá suada?

— Porque tá quente aqui, oras! Vamos logo para casa. — disse ela, tentando mudar de assunto.

— Beleza. — concordei, levantando-me. Foi então que avistei, no canto de uma loja, uma figura conhecida. Meus olhos se arregalaram. — Gente, é a Fernanda Figueiredo!

Antes que eu pudesse reagir, Giovanna agarrou meu braço e praticamente me arrastou para fora.

— Que Fernanda?! Vamos logo! Tá um calor infernal aqui! Além do mais, ela tá cercada de seguranças. Anda, anda, antes que eu tenha outro desmaio de verdade!

E assim, fomos embora, como se aquele tivesse sido apenas mais um dia comum de passeio no shopping. Mas, no fundo, sabíamos que foi tudo, menos comum.

Clima tenso em Parintins. Tia Olívia evitou Carlos ao máximo. Durante a reunião com importantes empresários, analisaram toda a documentação necessária para a construção da fábrica. Na volta, o silêncio predominou no carro.

Ansioso com a situação, Carlos tentou puxar assunto, mas sua tia ainda estava constrangida pelo que acontecera na noite anterior. Os dois cochichavam, cientes de que o taxista os observava pelo retrovisor.

Na visão de Carlos, o verdadeiro problema era sua posição na empresa. Ele era apenas um estagiário, enquanto tia Olívia, apesar de jovem, já possuía uma carreira consolidada no setor jurídico.

Ao chegarem ao hotel, subiram as escadas em silêncio. Antes que entrassem em seus quartos, Carlos tomou uma atitude ousada: segurou o braço de tia Olívia com delicadeza, apenas para impedi-la de entrar.

— Carlos, estou saindo com o Orlando. — ela declarou.

— Ele não gosta de você. — Carlos rebateu, aproximando-se mais.

— E você gosta?

— Desde a primeira vez que te vi.

— Carlos, você é meu estagiário. Isso é errado, por favor.

O jogo de sedução entre os dois era inevitável. Tia Olívia adorava o jeito provocador de Carlos. Ele era exatamente seu tipo: um homem grande, de voz grave, com um charme irresistível.

— Carlos, não. — pediu, afastando-se.

— Isso é só porque sou estagiário? Se eu fosse juiz, não teria problema?!

— O quê? — indignada, tia Olívia deu-lhe um tapa no rosto. — Me respeite. Você não me conhece. — disse, entrando no quarto e batendo a porta com força.

— Idiota!

Quando voltei para casa, Ramona me ligou avisando que não poderia dormir comigo. Algo relacionado a um compromisso com o pai. Brutus também me deu um bolo, ocupado com confusões amorosas. Letícia cancelou de última hora para se reunir com diretores do comercial.

Minha última esperança foi Zedu. Mas algo me impedia de encará-lo. Desde que o vi pelado no banheiro, uma onda de desconforto tomou conta de mim. Por que era tão difícil? Não tive esse problema com Léo.

— Ele nunca ficaria com um cara. — pensei.

— O Zedu está lá embaixo. — Richard anunciou, entrando no quarto.

— Sim.

— Ele parece nervoso. Aconteceu alguma coisa? — perguntou meu irmão.

— Nada. — respondi, tentando parecer natural. — Que observador. — pensei, enquanto saía para encontrar Zedu.

Em Parintins, Carlos reuniu coragem e bateu na porta do quarto de tia Olívia. Afinal, quem está na chuva está para se molhar, não é? Pediu desculpas pelas palavras rudes, mas também foi sincero.

— Eu gosto de você. Você é inteligente, bonita e tem um coração incrível. Sei que nossa situação no trabalho complica as coisas.

— Carlos, eu tenho três filhos. Não tenho tempo para um relacionamento agora. — insistiu, buscando razões para negar sua atração pelo estagiário.

— Eu não me importo. — Carlos se aproximou e a beijou. Tia Olívia, por mais que tentasse resistir, retribuiu.

Ela não conseguia escapar do encanto dele, e Carlos, por sua vez, parecia realmente apaixonado. Mais uma vez, escolheram o quarto dele para aproveitar os últimos momentos da viagem.

Zedu. José Eduardo. Meu crush manauara. Em casa, tentei agir naturalmente. Ele foi o único que apareceu para dormir comigo. Para jantar, sugeriu comida mexicana — noite de tacos.

Depois que as crianças foram dormir, jogamos videogame. Eu nunca fui bom em Mortal Kombat, mas naquele dia os deuses dos games me abençoaram: 20 vitórias e apenas uma derrota.

— Sortudo! Não usei todo o meu potencial. — Zedu reclamou, jogando uma almofada em mim.

— Amigo, apenas aceite. — brinquei, me defendendo. — Ei, Zedu, tem algo me incomodando…

— O quê? — ele perguntou, largando o controle do Xbox.

— Quero me desculpar por ontem. Não queria ter entrado no banheiro daquela forma. Se fosse comigo, eu morreria de vergonha.

— Fica tranquilo, mano. Não fiquei chateado. Na verdade, foi engraçado. Tô de boa, juro. — disse, bagunçando meu cabelo. — Você não fez nada de errado, Yuri Teixeira… não vou arriscar o seu outro sobrenome.

Estar com Zedu era confortável. Conversamos por horas e pegamos no sono. Ao acordar, vi que ele ainda dormia, parecendo uma criança que precisava ser protegida. Como posso gostar de alguém que nem é gay?

No dia seguinte, Letícia acordou cedo e foi com a mãe até a agência. As duas estavam animadas com a possibilidade de uma carreira de sucesso, mas Dona Keila foi firme nas negociações.

— Vocês têm um cronograma? As aulas vão começar logo, e minha filha não pode faltar. — disse, impondo respeito ao diretor do comercial.

— Sim. Já ajustamos tudo para que as gravações sejam no período da tarde. Enviei os detalhes por e-mail. Qualquer dúvida, estamos à disposição. — informou Inácio, o diretor do comercial de sabão em pó.

Tia Olívia voltou antes do almoço e decidiu nos levar para comer fora. Zedu foi o convidado de honra. O restaurante era bonito, mas estava lotado. Esperamos pacientemente no calor manauara até conseguirmos um lugar no mezanino. Me senti no MasterChef, #SQN.

Durante o almoço, tia Olívia perguntou como nos comportamos na sua ausência. Um flash veio à minha mente. Olhei para Richard, Giovanna e Zedu. Fiquei vermelho, lembrando que vi meu melhor amigo pelado, destruí uma loja com meus irmãos e fiquei preso no banheiro do shopping.

— Oi, mocinha. — ouvi uma voz familiar.

— Fernanda Figueiredo?! — exclamei, levantando. — Não acredito!

— Quem é ela? — perguntou Zedu para Richard.

— Até hoje não descobri. — meu irmão deu de ombros.

No Rio, era comum ver celebridades pelos bairros badalados. Mas em Manaus, Fernanda foi a primeira famosa que encontrei. Tiramos várias fotos. Giovanna parecia indiferente, o que despertou suspeitas em tia Olívia.

— O que vocês aprontaram? — ela questionou.

— Tia, um inseto gigante te mordeu! — soltou Richard, apontando para o pescoço dela.

— Preciso ir ao banheiro! — saiu apressada.

— Obrigada, Richard. — Giovanna suspirou aliviada e foi tirar mais selfies com Fernanda.

— Não vai desmaiar, né? — brincou a blogueira.

— Desmaiar, Giovanna? — perguntei, desconfiado.

— O quê?! — ela fingiu não entender, tirando mais uma foto.

Depois daquele almoço agitado, voltamos para casa. Tia Olívia passou o dia inteiro usando uma echarpe no pescoço. Meus amigos me convidaram para a Ponta Negra. O pôr do sol lá era espetacular. Infelizmente, as férias estavam acabando, mas aquela era apenas a primeira de muitas aventuras.

— Vamos tirar uma selfie! — gritou Ramona, registrando o momento.

Comecei a bater palmas para o pôr do sol. Meus amigos me olharam estranhando, então expliquei: no Rio, os turistas costumam aplaudir o pôr do sol. E, cara, o de Manaus era incrível.

Ramona ligou a caixinha de som e começou a tocar “Pôr do Sol”, da Xandreli.

***

Pôr do sol, brilho radiante,

Esconde ouro ou diamante, o que tu tens de bom,

Atrás do monte, brilhou raio solar, vai logo buscar

Uma paixão, um amor distante,

Que sempre a faz lembrar que o mundo é bom,

Desde que você possa amar.

Olhei para o Zedu, e a luz dourada do sol parecia envolvê-lo como um abraço quente, realçando ainda mais sua beleza serena. Seu rosto refletia um brilho suave, um contraste perfeito com o céu tingido de laranja e vermelho. A Letícia, ao meu lado, repousou a cabeça em meu ombro, suspirando com um sorriso tranquilo. Brutus, por sua vez, se jogou no colo da Ramona, que brincava distraidamente com os fios do cabelo dele.

Sem aviso, senti um peso a mais sobre mim. Zedu havia encostado sua cabeça no meu ombro, do jeito mais natural do mundo. Meu coração acelerou, mas tentei manter a calma. Ficamos ali, todos em silêncio, apenas contemplando o espetáculo da natureza, como se aquele momento pudesse durar para sempre.

— Ela é perfeita. — deixei escapar, sem ousar desviar os olhos do horizonte.

— Quem? — Zedu perguntou, sem mover a cabeça do meu ombro.

Engoli seco antes de responder.

— A mãe natureza.

Letícia suspirou, concordando com um sorriso suave:

— Sim, maravilhosa.

Zedu riu baixinho e murmurou:

— É verdade… Ela é perfeita.

Senti um leve toque na minha mão. Não sei se foi intencional ou se apenas aconteceu. Mas, por um instante, o mundo pareceu mais leve, mais bonito… mais certo.

***

Pôr do sol, janela amarela, ilumina o quarto escuro,

Não há mais breu, apenas ela, sonhando

Com um amor que a vida lhe deu.

O que será que ela busca nesse amor?

Que sede de amar…

***

Minha tia Olívia observava o pôr do sol da janela de casa. As cores vibrantes do céu refletiam em seus olhos, perdidos em pensamentos distantes. Instintivamente, levou a mão ao pescoço, onde ainda restava um leve vestígio do que aconteceu.

Foi impossível não se lembrar da última conversa que teve com Carlos antes de embarcarem de volta para Manaus.

— Eu não me arrependo de nada. — Carlos declarou com firmeza. — Faria tudo outra vez. Se você quiser me demitir, vá em frente, faça. Mas eu faria tudo de novo. Porque você vale a pena.

Ele passou por ela sem hesitar, seguindo em direção ao avião.

Olívia apertou os lábios, hesitou por um segundo e, então, o chamou:

— Carlos…

Ele parou e se virou, esperando por algo, qualquer coisa.

Mas tudo o que ela conseguiu dizer foi:

— Nada aconteceu.

E então, sem olhar para trás, passou por ele e entrou no avião.

Carlos permaneceu parado por alguns segundos, observando-a se afastar, antes de soltar um sorriso torto e seguir seu caminho.

***

Romance bom, menina que sabe sonhar,

Então põe-se o sol, mas não a esperança dela.

Há inocência em pensar que seu amor a espera,

Toda vez que o sol se esconde e se vai,

Ela o ama…

BOM FINAL DE SEMANA MEUS AMORES. QUALQUER COISA: escrevoamor@gmail.com

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